12/09/2011

Tupinambás

O termo tupinambá provavelmente significa o mais antigo ou o primeiro e se refere a uma grande nação de índios, da qual faziam parte, dentre outros, os tamoios, os temiminós, os tupiniquins, os potiguaras, os tabajaras, os caetés, os amoipiras, os tupinás (tupinaê), os aricobés etc.
Os tupinambás, como nação, dominavam quase todo o litoral brasileiro e possuíam uma língua comum, que teve sua gramática organizada pelos jesuítas e que passou a ser conhecida como o tupi antigo, constituindo-se na língua raiz da língua geral paulista e do nheengatu. Entretanto, normalmente, quando se fala em tupinambás, está-se a referir às tribos que fizeram parte da Confederação dos Tamoios, cujo objetivo era lutar contra os portugueses, conhecidos pelos tupinambás como peró[1].
Apesar de terem raízes comuns, as diversas tribos que compunham a nação Tupinambá lutavam constantemente entre si, movidas por um intenso desejo de vingança que resultava sempre em guerras sangrentas em que os prisioneiros eram capturados para serem devorados em rituais antropofágicos. Autores como o alemão Hans Staden (História verdadeira e descrição de uma terra de selvagens...) e os franceses Jean de Léry (História de uma viagem feita à terra do Brasil) e André Thevet (As singularidades da França Antártica...), todos do século XVI, além das cartas jesuíticas da época, nos dão notícias muito precisas acerca de quem eram e de como viviam os índios Tupinambás.
Homem tupinambá - pintura de Albert Eckhout (1610 - 1666)
Em todas as tribos tupinambás, eram comuns as referências a "heróis civilizadores", como chama Alfred Métraux em seu livro A Religião dos Tupinambás. Esses heróis eram divindades que haviam criado ou dado início à civilização indígena (Meire Humane e Pae Zomé — mito ameríndio comum em toda a América Meridional). Também era comum a intercessão dos pajés junto aos espíritos através do uso dos maracás, chocalhos místicos cujo uso era obrigatório em qualquer cerimônia.
Atualmente, existem três núcleos de índios Tupinambás no litoral da Baía: Olivença, município de Ilhéus, com vinte aldeias e 3 864 indígenas e a aldeia Patiburi, no município de Belmonte, com 199 pessoas. Também, os Tupinambá da Serra do Padeiro, com mais de 1 mil indígenas divididos em 21 aldeias - grupo que se negou a virar escravo nos engenhos e se abrigou no mato (por conta disso o extinto Serviço de Proteção ao Índio (SPI) os chamavam de "Tupinambá do Mato". Atualmente lutam pela homologação de suas terras, já demarcadas pela Fundação Nacional do Índio (Funai).
Os tupinambás da Região Sudeste do Brasil tinham um vasto território, que se estendia desde o Rio Juqueriquerê, em São Sebastião / Caraguatatuba, no estado de São Paulo, até o Cabo de São Tomé, no estado do Rio de Janeiro.
O grosso da nação tupinambá localizava-se na Baía da Guanabara e em Cabo Frio, onde fabricavam o gecay, que era a mistura de sal e pimenta que os índios vendiam aos franceses (chamados pelos tupinambás de maíra[2], nome originário de Meire Humane), com os quais se aliaram quando estes estabeleceram a colônia da França Antártica na Baía de Guanabara.
As tentativas de escravização dos índios para servirem nos engenhos de cana-de-açúcar no núcleo vicentino levaram à união das tribos numa confederação sob o comando de Cunhambebe chamada de Confederação dos Tamoios, englobando todas as aldeias tupinambás desde o Vale do Paraíba Paulista até o Cabo de São Tomé, com invejável poderio de guerra.
É nesse ínterim que Nóbrega e Anchieta teriam sido levados por José Adorno de barco até Iperoig (atual Ubatuba), para tentar fazer as pazes com os índios. Segundo a tradição, Nóbrega voltou até São Vicente com Cunhambebe e o Padre José de Anchieta ficou cativo dos tupinambás em Ubatuba. Nesse período, ele teria escrito o Poema da Virgem. Fatos lendários e fantásticos teriam ocorrido nesta época do cativeiro, como o milagre de Anchieta: levitar entre os índios, que horrorizados, queriam que ele dali se retirasse pois pensavam tratar-se de um feiticeiro.
Distribuição dos grupos de língua tupi na costa no século XVI
Seja como for, os padres, com muita diplomacia, conseguiram desmantelar a Confederação dos Tamoios, promovendo a Paz de Iperoig, o primeiro tratado de paz das Américas. Diz-se que, depois de feitas as pazes, Nóbrega advertiu os índios de que, se voltassem atrás na palavra empenhada, seriam todos destruídos, profecia que, de fato, se concretizou. Quando os portugueses atacaram os franceses do Rio de Janeiro, estes pediram ajuda aos índios, que acudiram a seus aliados. Isto levou ao extermínio dos tupinambás que moravam em aldeias em torno da Baía da Guanabara, na segunda metade do século XVI. Os que conseguiram se salvar foram os que se embrenharam nos matos com alguns franceses e os índios tupinambás de Ubatuba que, para não ajudarem os irmãos do Rio e não correrem riscos, ou se embrenharam nos matos ou foram assimilados pelos colonos em Ubatuba, gerando a atual população caiçara daquela região assim como a população cabocla do Vale do Paraíba Paulista e Fluminense.
Contudo, o golpe fatal aos tupinambás foi o ataque ao último reduto francês em Cabo Frio, com a destruição de todas as aldeias. Tudo destruído com fogo e passado ao fio da espada. Os sobreviventes ou se refugiaram nos matos e migraram para outras regiões ou alguns poucos ainda, no final do século XVI, podiam ser encontrados numa aldeia de índios cristãos próxima da então recém-fundada cidade do Rio de Janeiro, local onde morreu e foi enterrado o Padre Nóbrega.
Por esses motivos e por algumas declarações que denotariam em tese conivência com o extermínio indígena é que o Padre José de Anchieta tem sido considerado muito polêmico até os dias atuais, embora, noutras oportunidades, tenha declarado que se entendia melhor com os índios do que com os portugueses.

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